Oficina de Escrita

O que me deixa de bem com o mundo:

As alturas da paisagem que me abraçam...
O ar da noite húmido de ilusões...
A luz e o fogo de alguma humanidade...
A Oficina de Escrita Criativa é um espaço sem fronteiras, sem limites; é um lugar onde eu consegui juntar e unir vários horizontes que se tinham dispersado no meu interior.
Eu amo as palavras escritas. Elas são para mim como as cores, as pinceladas que um pintor oferece ao Mundo numa tela, num quadro. Estão presentes em tudo o que me rodeia, porque no princípio era o Verbo, a palavra, e através dela podemos construir tudo o que desejamos. A Oficina de E.C. deu-me a oportunidade de criar, de conhecer o sabor das palavras, o cheiro, a cor, a luz e o brilho que uma só frase tem. Aprendi nesse lugar, quase mágico, quase irreal, que a escrita é como um rio que não pára, que não transborda, que não inunda - é água que traz sede...
Descobri que podia escapar, fugir pela janela, agarrado a um livro, pendurado numa página qualquer. Não estava preso, não era um preso...

domingo, 27 de julho de 2008

A formiga

Siga cantando

Já observou a atitude dos pássaros ante as adversidades?
Ficam dias e dias a fazer o seu ninho, recolhendo materiais, às vezes trazidos de locais distantes... E quando ele já está pronto e estão preparados para pôr os ovos, as inclemências do tempo ou a acção do seu humano ou de algum animal destrói o que com tanto esforço se conseguiu...
Acha que ele desiste? De maneira nenhuma. Começa uma outra vez até que no ninho apareçam os primeiros ovos.
Muitas vezes, antes que nasçam os filhotes, um animal, uma criança, uma tormenta volta a destruir o ninho, mas agora com o seu precioso conteúdo...
Dói recomeçar do zero... Mas ainda assim o pássaro jamais emudece, nem retrocede, continua a cantare a construir, a construir e a cantar...

Já sentiu que a sua vida, o seu trabalho, a sua família, os seus amigos não são o que sonhou? Tem vontade de dizer "Basta! Não vale a pena o esforço, isto é demasiado para mim!"?
Está cansado de recomeçar, do desgaste da luta diária, da confiança traída, das metas não alcançadas quando estava a ponto de conseguir?

Mesmo que a vida o golpeie mais uma vez, não se entregue nunca. Faça uma oração, ponha a sua esperança na frente e avance. Não se preocupe se for ferido na batalha, é de esperar que algo do género aconteça. Junte os pedaçõs da sua esperança, assuma-a de novo e volte a ir em frente!
Não importe tudo aquilo por que venha a passar. Não desanime, siga adiante. A vida é um desafio constante, mas vale a pena aceitá-lo. E, sobretudo... NUNCA DEIXE DE CANTAR!

Autor desconhecido
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Observando outro animal...

A FORMIGA


Foi ao entardecer que decidi parar. Estacionei então este corpo de encontro a uma rocha que, por acção e teimosia do Sol, estava morna, como se esta massa amorfa tivesse ganho vida. Olhava o Mundo à minha volta, distraindo o meu olhar com a paleta de cores que vestia toda a natureza, quando a ouvi.
Ao princípio
era uma vozita fraca, como um lamento, aqueles “ais” que se nos escapam quando arreamos do viver as cargas que se vão acumulando. E a vozita foi ganhando mais volume, até chegar a um tom de raiva. Estranho, pensei, quem é que fala assim?.

Guiado pelo som, vi que do outro lado da rocha, quente e viva que me servia de sofá, estava uma formiga, andando em círculos, como se quisesse agarrar-se e ela própria. Deu-me vontade de rir. Pequenita como era, gesticulando ferozmente e soltando um:

- Não posso mais!, girando e girando detrás de si mesma.

Convenhamos que era caso para rir.

Mas não foi o que fiz. Controlando esta faceta tão própria da nossa tão querida e arrogante humanidade, cumprimentei a formiguita:

- Olá, boa tarde – disse-lhe eu.

E ali ficou, de repente imóvel, olhando-me, como se se lhe houvesse acabado a corda de um mecanismo invisível.

- Olá – respondeu-me secamente.

E lá seguiu com o seu bailar à volta do nada.

- Formiguita que gira e gira – pensei – então, perdeste alguma coisa? – perguntei-lhe, tentando fazer com que ela deixasse de andar às voltas, porque a mim, de vê-la, quase me punha tonto.

- Não, não perdi nada... antes fosse... – disse-me ela.

Ela não, que por acaso era um ele. Chamava-se Ricardo, mas, como em português não existe um formigo, Ricardo fica-se formiga, que até está bem. Eu fiquei a saber, após uma longa conversa, que o problema da formiga Ricardo é o mesmo de milhares e milhares delas. Estão fartas de que as vejam como um exemplo! Pobrezinhas, sempre atarefadas, sempre a trabalharem, de noite e de dia, sem pararem, sem férias, nem fins-de-semana, nem dias santos. Não têm nem sindicato nem ninguém que proteja os seus interesses. É verdade, Ricardo está cansado (ou direi cansada?) de ser escravo (ou escrava).

Fevereiro 2008

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Acerca de mim

Devo desde já esclarecer que não sou eu o gestor do blogue. Não posso. Não tenho acesso directo à Net. Estou preso há um ano (fez em Junho). Embora fisicamente preso, na minha cabeça, nunca me senti tão livre... Como é que me evado? Através da arte, do desenho, da pintura, da leitura e da escrita. Na pintura, tento encontrar um estilo próprio. Para já, bebo em algumas fontes: Modigliani e Dali, essencialmente. Também tenho um fascínio por Da Vinci, sobretudo enquanto ocultista. Adoro ler sobre exoterismo e filosofia do século XX. Aqui onde me encontro vim encontrar uma Oficina de Escrita, que frequento regularmente todas as semanas. Lá em cima, já disse o que penso desta actividade - um espaço de luz dentro da escuridão do cárcere...

27 de Julho 2008