Penso confessar pensamentos a quem os ouve da janela do quarto
para a cama desfeita de nós os dois rebolados no chão
sem tocar o ar que cheira a noite e a estrelas e a luz
a luz do teu corpo do teu olhar a brilhar no desejo
que torna aurora o vermelho escuro dos lábios que dançam sombras
de sons sobre nós de corpos leves quase etéreos quase nada
do nada que se faz todo no vai e vem sussurrado da respiração
que prende os sentidos e os ata à pedra âncora das mãos
e mais, mais, mais, muito mais do que eu quando me tocas e despertas
do doce letargo partes de mim que esqueci abandonadas no fundo
deste saco de pele ardente que dá e te recebe sem código postal
sem endereço possível morada eterna do fogo que arde em ti e em mim
de cima abaixo de trás e de frente de lado de todos os lados
de todas as ondas que impetuosas de prazer se esmagam uma
após outra contra nós deixando-nos maré e praia
até que o caminho de carne suada serpenteia pelo alto
e se faz estreito de espasmos e vibrações e explode
uma e outra vez até à exaustão deixando-nos lá onde estávamos
antes mesmo de chegarmos a ser de mão na mão e olhar
sustentado na respiração que fala sem dizer nada que sim
que foi a primeira de todas as vezes que agora já só nos resta
esperar que de novo seja um de nós a pensar confessar pensamentos
a quem os ouve da janela do quarto para a cama ainda desfeita de nós os dois
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