Oficina de Escrita

O que me deixa de bem com o mundo:

As alturas da paisagem que me abraçam...
O ar da noite húmido de ilusões...
A luz e o fogo de alguma humanidade...
A Oficina de Escrita Criativa é um espaço sem fronteiras, sem limites; é um lugar onde eu consegui juntar e unir vários horizontes que se tinham dispersado no meu interior.
Eu amo as palavras escritas. Elas são para mim como as cores, as pinceladas que um pintor oferece ao Mundo numa tela, num quadro. Estão presentes em tudo o que me rodeia, porque no princípio era o Verbo, a palavra, e através dela podemos construir tudo o que desejamos. A Oficina de E.C. deu-me a oportunidade de criar, de conhecer o sabor das palavras, o cheiro, a cor, a luz e o brilho que uma só frase tem. Aprendi nesse lugar, quase mágico, quase irreal, que a escrita é como um rio que não pára, que não transborda, que não inunda - é água que traz sede...
Descobri que podia escapar, fugir pela janela, agarrado a um livro, pendurado numa página qualquer. Não estava preso, não era um preso...

domingo, 27 de julho de 2008

Com Maria

“Não se trata de uma pequena aguarela, compreendem? É uma janela aberta sobre a minha infância. De cada vez que olho para ela vejo cenários diferentes. Imagens que o pintor não viu...”

Faíza Hayat, crónicas


Ainda que seja quase impossível descobrir a sensibilidade feminina que deu calor ao carvão desenhado, no primeiro momento em que vi esta “pequena aguarela”, senti que a autora me quis fazer cúmplice dos traços leves e fortes que compõem a melodia calada no azul do céu e da água, como se fora prisioneira do tempo que se faz eterno ao escorrer-se pelo horizonte.

Aceito essa cumplicidade, tomo-a como um desafio, e dentro de mim escuto um silêncio de mãos dadas com um sorriso que corre e salta à medida que olho a “pequena aguarela”, e me abandono, sentado lado a lado com Maria, a autora, enquanto ela vê o que eu não posso ver, e eu olho, espreitando por detrás do que ela não pintou. Posso escutar a água fluindo por debaixo da ponte, acariciando de forma envolvente e redonda as pedras, respiro o ar puro e fresco, que borboleteia com os salgueiros, e Maria, baixinho, pergunta-me se eu consigo escutar a música que está presa no quadro; à espera de quem a possa ouvir.

(Oficina de Escrita Criativa, Fevereiro de 2008)

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Acerca de mim

Devo desde já esclarecer que não sou eu o gestor do blogue. Não posso. Não tenho acesso directo à Net. Estou preso há um ano (fez em Junho). Embora fisicamente preso, na minha cabeça, nunca me senti tão livre... Como é que me evado? Através da arte, do desenho, da pintura, da leitura e da escrita. Na pintura, tento encontrar um estilo próprio. Para já, bebo em algumas fontes: Modigliani e Dali, essencialmente. Também tenho um fascínio por Da Vinci, sobretudo enquanto ocultista. Adoro ler sobre exoterismo e filosofia do século XX. Aqui onde me encontro vim encontrar uma Oficina de Escrita, que frequento regularmente todas as semanas. Lá em cima, já disse o que penso desta actividade - um espaço de luz dentro da escuridão do cárcere...

27 de Julho 2008