“Não se trata de uma pequena aguarela, compreendem? É uma janela aberta sobre a minha infância. De cada vez que olho para ela vejo cenários diferentes. Imagens que o pintor não viu...”
Faíza Hayat, crónicas
Ainda que seja quase impossível descobrir a sensibilidade feminina que deu calor ao carvão desenhado, no primeiro momento em que vi esta “pequena aguarela”, senti que a autora me quis fazer cúmplice dos traços leves e fortes que compõem a melodia calada no azul do céu e da água, como se fora prisioneira do tempo que se faz eterno ao escorrer-se pelo horizonte.
Aceito essa cumplicidade, tomo-a como um desafio, e dentro de mim escuto um silêncio de mãos dadas com um sorriso que corre e salta à medida que olho a “pequena aguarela”, e me abandono, sentado lado a lado com Maria, a autora, enquanto ela vê o que eu não posso ver, e eu olho, espreitando por detrás do que ela não pintou. Posso escutar a água fluindo por debaixo da ponte, acariciando de forma envolvente e redonda as pedras, respiro o ar puro e fresco, que borboleteia com os salgueiros, e Maria, baixinho, pergunta-me se eu consigo escutar a música que está presa no quadro; à espera de quem a possa ouvir.
(Oficina de Escrita Criativa, Fevereiro de 2008)
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